abril 21, 2005

Botões Políticos (última parte)

Os dois tipos de visionários tendem a se posicionar em lados opostos de muitas questões não relacionadas entre si. A visão utópica identifica objectivos sociais e articula medidas políticas directas: a desigualdade económica é atacada com uma guerra à pobreza, a poluição por regulamentos ambientalistas, desequilíbrios raciais com descriminação positiva. Como crítica, a visão trágica aponta os interesses individuais das pessoas que causam ou influenciam esses problemas - argumentando que acções directas são muitas vezes incapazes contra as respostas individuais de milhares ou milhões de interessados que não se revêem nessas medidas.

Pelo contrário, a visão trágica procura sistemas cuja dinâmica produza resultados aceitáveis, mesmo que a maioria dos seus participantes não seja particularmente sábio ou virtuoso. O mercado livre, na opinião deles, consegue esse objectivo. Não é necessário um entendimento completo da rede de relações comerciais de produtos e serviços para antecipar onde, quando e quem precisa do quê. Os direitos de propriedade dão um incentivo à produção, a solidez dos contratos assegura uma dinâmica continuada de trocas, os preços transmitem informação sobre a demanda e procura entre produtores e consumidores o que lhes permite agir segundo um conjunto simples de regras: fazer mais do que é lucrativo, comprar menos do que é caro - e a "mão invisível fará o resto". Como crítica, a visão utópica diz que se produz uma distribuição socialmente injusta de riqueza entre os diferentes actores do mercado. Como resposta, os da visão trágica defendem que a noção de justiça só faz sentido para avaliar acções humanas sob um sistema legal e não quando aplicado a uma abstracção designada por 'sociedade'.

Algumas das batalhas entre a esquerda e a direita recaem nestas questões filosóficas: governos grandes ou pequenos; taxas altas ou baixas; proteccionismo ou mercado livre; medidas directas para reduzir os problemas ou medidas indirectas para reforço das leis. Também na justiça: os da visão trágica tendem a ver a execução da lei como a aplicação cega e directa do que está escrito, enquanto a visão utópica procura o espírito da lei para lá da escrita da mesma. Uns são acusados de perpetuarem injustiças arbitrárias, outros são acusados de egotismo e caprichos arbitrários que só desfavorecem quem segue as leis segundo a norma.

Sem comentários: