abril 12, 2005

Botões Políticos (parte IV)

Na visão utópica a natureza humana muda com as circunstâncias sociais, logo as instituições tradicionais possuem um valor intrínseco. As tradições são a mão morta do passado, a tentativa de governar a partir do cemitério. Elas devem ser explicitadas de forma a analisar a sua lógica e justiça e a avaliar a sua moral. Através deste teste, muitas tradições falham: o encerrar das mulheres em casa, o estigma da homossexualidade e do sexo pré-marital, as superstições da religião, a injustiça do apartheid e da segregação, os perigos do patriotismo. Práticas como a monarquia absolutista, a escravatura, a guerra e o patriarcado, antes consideradas inevitáveis, desapareceram em muitas partes do planeta através de mudanças de instituições que antigamente eram consideradas como enraizadas na natureza humana. Mais, a existência de sofrimento e injustiça apresenta-nos uma imperativa moral indiscutível. Não sabemos o que podemos conseguir sem experimentar, e a alternativa, resignarmos ao estado do mundo, não é uma opção.

Mas os da visão trágica não se comovem com estes argumentos. Nós somos todos membros de uma espécie com falhas. Colocar a nossa visão moral em prática pode significar impô-la aos outros. A atracção humana por poder e estima, polida por auto-decepção e um sentimento de justiça, é um convite à catástrofe, principalmente se esse poder for direccionado a um objectivo tão quixotesco como a erradicação dos interesses individuais (como disse o filósofo Michael Oakshott, pretender fazer algo impossível é sempre uma demanda que corrompe quem a procura). [cont.]

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