maio 09, 2005

Despotismo vs. Política (parte II)

A essência do despotismo é que não existe apelo (quer por Lei ou na prática) contra o poder irrestrito do mestre. O único objectivo dos sujeitos é agradá-lo. Não existe parlamento, oposição, imprensa livre, justiça independente ou propriedade privada que esteja protegida da rapacidade do poder absoluto. Este sentimento generalizado de impotência é, curiosamente, a razão para estes períodos serem profícuos em misticismos, estoicismos e outras formas de ausência. A essência da vida é encontrada para lá dos sentidos, o social e o político são desvalorizados como ilusões ou estados transitórios. O resultado comum é a estagnação científica e tecnológica a médio prazo.

O despotismo aflui tão naturalmente da conquista militar (onde a maioria das sociedades se originou) que a criação de uma ordem civil ou política é visto como um acontecimento assinalável. Os europeus conseguiram-no em três ocasiões e em duas delas a experiência colapsou. A primeira ocorreu nas cidades estado gregas, que se afundaram em despotismo após a queda de Alexandre. A segunda foi com os Romanos, cujo próprio sucesso criou um Império tão heterogéneo que só um poder despótico foi capaz de travar a sua desagregação. O falhanço da primeira destas experiências gerou o Estoicismo e outras filosofias de afastamento. A segunda resultou num ambiente propício para o crescimento de uma religião: o Cristianismo. Do Cristianismo e dos reinos bárbaros do ocidente surgiram as versões medievais de política que, lentamente, se desenvolveram nas políticas actuais, a terceira ocasião, que vivemos e não sabemos qual o seu destino final. [cont.]

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