outubro 10, 2005

A sobrevivência da política (parte II)

A questão entre moralidade e política é especialmente interessante dado que esta última nasceu de certas condições históricas e pode morrer da mesma forma. Ou por ter surgido algo melhor, ou porque algo antigo e resistente voltou à superfície sobre uma nova forma. Mas se a actividade política morresse, a instituição do Estado seguiria com ela. Atacar uma é ameaçar a outra. Já foi referido o desafio ideológico que ataca o estado em nome de uma sociedade perfeitamente justa. A sociedade suporta um sistema de vida (enquanto o estado não) onde a acção política é substituída pelo julgamento moral, produzindo uma sociedade perfeita sem crime, inveja ou pobreza porque todos teriam sido sociabilizados. Como a perfeição fora alcançada, seria indiferente chamá-la o triunfo ou a extinção da moral.

Uma das suas versões é designada de moralismo político e uma forma de a apresentar é através do projecto de substituição do estado soberano pela ordem internacional emergente, ou internacionalismo. O primeiro problema onde o internacionalismo é uma resposta, é na guerra. Considerou-se, no passado, que as dinastias eram (um)a causa das guerras e as republicas a solução. Nesta nova versão, a guerra resulta de más instituições, as nações soberanas a causa das guerras e a crescente ordem internacional a solução. A teoria que as más instituições causam males sociais assume os humanos como criaturas plásticas que reflectem as instituições que as agregam. Isto deixa pouco espaço para a ‘natureza humana’ e tem como implicação que com melhores instituições (logo melhores pessoas) podemos resolver a questão da guerra e mesmo da justiça. Como consequência desta linha de raciocínio, os internacionalistas procuram a distribuição justa, por todas as pessoas do mundo, dos recursos e benefícios morais (os direitos humanos) disponíveis. Mas outra implicação é a substituição da política pela moral ao procurar abolir dois pilares centrais da política: o interesse individual e o estado-nação (visto aqui como uma organização de egoísmo colectivo designada, por vezes, de nacionalismo).

Sem comentários: