abril 10, 2006

Percursos

O real é complexo. Esta afirmação teria a concordância de todos os presentes na sala incluindo o policia corrupto que, para além das dívidas ao jogo, do sustento da intrincada rede de amantes homossexuais e do terror absoluto ao olhar do Doutor Spleen, não costuma pensar muito nestas coisas. Aliás, o real é tão complexo que, por muito trabalho que nele se ponha, serão sempre as perguntas o resultado natural de uma investigação sistemática. Por um lado, esta imensidão do mistério é um convite ao religioso que, sem cuidado, reduz-se ao regresso infantil da necessidade de um Pai/Mãe. Por outro, o não findar das perguntas garante um oceano de oportunidades para cientistas, filósofos e até artistas do divinatório (que entre os padrões do real lá cosem relações improváveis ao saciar dessa sede que são as pessoas). O polícia, não sendo pensador metódico nem astrólogo e que agora sai no silêncio culpado dos traidores, sabe que as oportunidades estarão sempre à nossa frente desde que saibamos que olhos não usar.

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