julho 03, 2006

Precisão

A Ética é mais que pedras gravadas ou páginas escritas, que máximas sibiladas em ritual, que o suor da procura honesta que nos dite que fazer. Porque o universo é complexo, quase infinito, as consequências e as causas são multidões que o nevoeiro das relações esconde. Ética é o cálculo possível de uma situação, temperado pela inteligência, temperado pelas normas de uma cultura e polvilhado nos fantasmas carregados dos erros cumpridos. O Doutor Spleen reconhece que esse cálculo é o que nos separa dos restantes animais. Também reconhece que a capacidade de análise individual divide a Humanidade em diferentes campos. E no mesmo convivem santos e monstros, heróis e nemesis, anjos e demónios, porque para esventrar o conceito difuso de uma ética culturalmente partilhada é necessário ser matemático e cirurgião, um engenheiro de minas nessa lava de sentimentos arrefecida que molda a sociedade humana. O Doutor Spleen gostava, uma única vez que fosse, de explicar isso a uma das suas vítimas. Que não é o aleatório da escolha o importante na morte mas sim a demonstração desenhada no rasgar do corpo.

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