fevereiro 26, 2007

Jurisprudências

A magia é a ponte que liga o deserto da superstição, a névoa da religião e o oceano da ciência. É o admitir de uma rede de causas e efeitos, o reconhecer de uma hierarquia de poderes de influência aos quais é necessário saber os humores, os quereres e pulsões, os vícios e fobias. E neste jogo de simpatias e antipatias, de reflexos simbólicos, de imagens e originais que se transmutam, age-se sobre a natureza, sobre as leis que a regem e subjugam. Nesse sentido tudo é tecnologia, tudo é acto de querer compreender para mudar, de convergir o caos e a ordem ao vento dos nossos desejos. O Dr. Spleen admite, porém, que a eficácia é um argumento forte. De que serve deitar sal na mesa para repelir o azar, de repetir a ladainha de uma qualquer loa a um qualquer ente supremo, se nada de eficiente daí resulta? Como preferir o poder incerto de um mau olhado à garantia comercial de uma arma? Como optar pelo amuleto linguístico de uma reza ao diabo quando se possui uma gestão que contrata homens, mortais e idiotas, é certo, mas reais e obedientes? No entanto, Spleen reconhece que a leveza de alma que o leva a segurar certos objectos (o seu bisturi, aquela tesoura) em ocasiões que a lógica e a retórica não poderiam justificar, são do domínio por escavar e ainda animal dos nossos sentidos.

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