junho 07, 2007

Limites I

[«] Na distinção cérebro-mente há um assunto relevante associado aos limites. Tanto no limite inferior (qual o mínimo necessário para ser-se capaz de pensar) como no superior (haverá algo para além de nós?) encontram-se questões pertinentes.

Na parte inferior há dados experimentais importantes que indicam uma admirável versatibilidade em parte do restante reino animal. Os primatas, e talvez os cetáceos bem como outros mamíferos, possuem a noção do individuo, têm memória de curto e médio prazo, estabelecem entre si hierarquias sociais relativamente elaboradas, são capazes de planeamento e reconhecem como diferentes o presente e o futuro, aprendem conceitos abstractos, coexistem em culturas próprias que mantêm informação a qual obriga a uma fase de integração pós-natal ( i.e., coabitam com informação comportamental não impressa geneticamente). O admitir deste conhecimento (porque não nos basta saber, é preciso entranhar esta informação) pode-nos levar até a juízos éticos sobre a nossa responsabilidade perante estes inesperados indivíduos. O limite inferior, não sendo uma linha divisória objectiva - estas fronteiras serão sempre difusas, reflexos flutuantes das definições da moda - aponta para uma gradação quantitativa do processo cognitivo. Não consigo aceitar facilmente uma qualquer diferença de qualidade no cérebro do Homem, excepto, talvez, se isso se referir à mudança de fase que ocorreu pela disponibilidade (e perdoem-me a metáfora) de poder computacional no nosso cérebro e que nos permitiu aproveitar e aperfeiçoar, entre outras coisas, a extraordinária ferramenta que é a linguagem humana.

2 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

"O limite inferior, não sendo uma linha divisória objectiva - estas fronteiras serão sempre difusas, reflexos flutuantes".

Ali queres mesmo dizer limite inferior?

É que só consigo perceber se for limite superior.

"disponibilidade (...) de poder computacional no nosso cérebro e que nos permitiu aproveitar e aperfeiçoar, entre outras coisas, a extraordinária ferramenta que é a linguagem humana."

É uma excelente metáfora e explica algo que disse lá em cima.

Contudo... há "diferença de qualidade no cérebro" de alguns seres humanos.

Falas dos que nascem dotados, à partida das mesmas capacidades desde que tudo corra bem, mas não estarás a falar dos que nascem diferentes, pois não?

E são seres humanos, ou Homens, como insistes em referir.

João Neto disse...

Ali queres mesmo dizer limite inferior?

Sim. Mas percebo a tua questão. Hoje em dia a fronteira é bem definida: o limite inferior é ser-se humano. A questão aqui colocada é que certos animais (como os chimpanzés, por exemplo) possuem capacidades cognitivas muito elaboradas de forma a que possam ser considerados como pessoas (repara que, neste contexto, pessoa e homo sapiens não representariam exactamente o mesmo conjunto). Deste modo, a fronteira inferior que usamos actualmente seria reflexo de um preconceito de espécie (o designado especismo).

Em relação à "diferença de qualidade no cérebro" a frase não compara entre humanos mas sim entre os humanos e os outros animais.