junho 04, 2007

Paciência

A distância da realidade da nossa compreensão da realidade vai diminuindo com os séculos. Dizem. Dizem também que essa compreensão descrita por modelos aprovados em controle de qualidade - falsificáveis, matematizáveis - são o cerne e alma da Ciência. No entanto este também é um modelo com a sua separação quilométrica da realidade. A tradição, a autoridade e preconceito de peritos e academias, o viscoso da ciência normal, evitam muitos vezes melhores visões cujo defeito é chegarem cedo demais. Isto seria algo que o cientista, detentor de variados prémios e bolsas sobre a abstracção da dor que agora subjaz (subjaz é uma palavra que ao Dr. Spleen lhe agrada e eu, como narrador relativamente isento destes textos, não encontro motivo para não utilizar), imóvel, em pânico, no chão gelado e estéril do laboratório, concordaria. Apesar de anos em defesa do carácter virtual da propagação da dor, da demonstração (que lhe valeu até o entusiasmo erótico de uma sua, na altura, nova assistente eslava, mas enfim divago) que a dor é apenas um conjunto cifrado de informação eléctrica passível de múltiplas interpretações dentro da multidão neuronal de cada cérebro, vê-se agora confrontado com o facto da sua mão já se encontrar na caixa do correio e não conseguir traduzir o que o seu corpo lhe informa com eficiência numa, outra, mensagem mais serena.

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