dezembro 10, 2007

Incompreensão

Se na morte não houvesse perda não seria uma tragédia. Eis algo que a futura vítima, amarrada à parede, semi-nua, num quase de penumbra e ciente da sua situação, encontra dificuldades em aceitar. O silêncio da face daquele que o executa é, segundo a experiência do Dr. Spleen, a mensagem possível, a comunicação que resta. Porque evita o uso das palavras que são, como se sabe, órbitas que nos seguem e, logo, ferramentas inúteis em eventos deste género. E porque salienta, nesse momento resgatado antes do fim que sempre se quis adiado, o confronto da rara nudez dos rostos e concentra os olhares no olhar do Outro. Dizem que o silêncio é de Ouro (e anda-se muito em redor destes atómos de setenta e nove protões, porque raros?, porque juntos brilham?) mas no fixar gelado do Dr. Spleen revela-se, ao contrário, que o silêncio é de Carbono, Oxigénio, Azoto e Hidrogénio. Um querer de vida para se notar, para ter sentido, para se perder enfim.

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