abril 09, 2008

Invariante

Quando afirmamos que tudo depende da perspectiva, há asserções escondidas que nem todos admitem. Todos nós vivemos e reflectimos baseados em convicções. Eis uma: "O Mundo é estável". Há mudança, claro, mas também essa mudança obedece a padrões aos quais adequamos o nosso comportamento. Arriscamos a nossa vida nessa asserção (por exemplo, atravessamos a pé uma estrada após uma rápida consulta à trajectória dos carros, que facilmente nos matariam se as leis físicas flutuassem nesse instante, acelerando esses mesmos carros. Atravessamos a estrada por 'sabemos' que isso não acontece). A estabilidade do Mundo tem implicações sobre a perspectiva que nos restringe. Diferentes olhares, interpretações, são possíveis, até porque o nosso conhecimento do real é limitado (estas perspectivas poderão até ser, no conjunto, inconciliáveis, impedindo-nos, pela natureza do que 'está lá fora', de desenhar modelos gerais, teorias de tudo). Mas é este real que restringe a gama de perspectivas que somos capazes de admitir - bem como as representações que daí somos capazes de construir - como úteis, sensatas ou pertinentes. Existem meios para defender perspectivas com pouca ou nenhuma ligação ao real, mas, a meu ver, são na maioria das vezes o resultado da pressão que resulta quando substituímos a razão crítica do individuo pelas ilusões autoritárias do rebanho.

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