maio 23, 2008

Dupla Via

O passado e o futuro são os dois sentidos dessa fluída trajectória que é uma pessoa. Quando fazemos planos para o futuro, quando nos sacrificamos agora para aproveitar depois, estamos a tirar de quem somos para dar a alguém que poderá ser muito diferente, a alguém que nos possa desiludir e cuja distância não se meça apenas na partilha de um mesmo ADN, nome e número fiscal. Mas fazê-mo-lo porque é esta a diplomacia possível, a doce e necessária ilusão deste querer de constância, deste achar-nos perenes, invariantes, no percurso a que chamamos vida. Já olhar para o passado, exercitar nele a nostalgia, gozar emoções, gestos, memórias perdidas, é uma homenagem, um reconhecer agradecido à difusa sequência de ténues estranhos que tiveram a amabilidade, que correram o risco, de nos trazer aqui.

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