maio 03, 2010

Excesso

"A maldição de pensar demasiado é o preço da inteligência" - Frank Herbert

Considero que a tradição filosófica é o nosso maior repositório de sabedoria. Mas por vezes acho desesperante algumas discussões onde o ciclo de refutações e contra-refutações se estende ad infinitum para cada detalhe mínimo. Não digo isto pelo processo dialético (uma ferramenta essencial à razão) mas por falta de contacto com a realidade. Exemplos típicos são os temas do livre-arbítrio ou do dualismo. Outro exemplo encontra-se na ética. A designada Guilhotina de Hume refuta a implicação que o que fazemos dá-nos uma razão para definir o que deveríamos fazer. Esta refutação é ainda hoje considerada sólida e parece impedir o uso da evidência e até da razão para responder em definitivo à questão "Porque devo fazer X?" sem recorrer a axiomas ou dogmas. Aqui encontra-se o ponto deste post. Se não podemos responder a esta pergunta de outra forma, então que se definem regras. Regras para enfrentar problemas reais mesmo que não resolvam algumas situações hipotéticas de duvidosa probabilidade. E para as definir, seria irracional não usar o nosso conhecimento, estudar a experiência histórica e, sim, observar as consequências do que fazemos. E entre a neurologia e a psicologia, a sociologia e a antropologia, a política e a história, temos todas as possibilidades de construir argumentos e evidências fortes que justifiquem o que muitas pessoas tentam já fazer: maximizar a felicidade da sua família e da comunidade a que pertencem, reduzir a violência e a discriminação, aceitar cada pessoa como igual e livre de se expressar, de se associar, de aprender e empreender. Se for preciso ser dogmático e afirmar que este tipo de atitude é melhor que o relativismo moral que evita comparar comportamentos e culturas, que assim seja. E, como na ciência, estejamos prontos a admitir os erros e os preconceitos que os formaram, e adaptemos, melhoremos essas regras progressivamente. Nada é perfeito, todos os axiomas são contingentes, porque seria diferente o exercício da ética? Se é impossível obter uma justificação fundamental, meta-ética, metafísica, meta-qualquer coisa, que assim seja também. Que respondamos então: "queremos fazer assim, porque foi este o caminho que, a custo, aprendemos a trilhar".

Sem comentários: